Isabel da Rocha Isabel da Rocha

F***-se Markl, é 2024!

Quase não sigo “figuras públicas” nacionais no Instagram. Deixei-me de coleccionar cromos faz tempo, mas o Nuno Markl era dos poucos que andava pelo meu feed.

Esta semana, o meu algoritmo desencantou um dos seus posts recentes. Era um screenshot do Middle East Eye com um foto de uma mulher palestiniana em Gaza num cenário de absoluta destruição acompanhada de um título “I saw a woman and her children in the fire and couldn’t help”. Fiquei logo curiosa em saber em que buraco Markl se iria enfiar desta vez.

Li as três primeiras frases e fiquei logo mal disposta.

Markl abria as hostilidades com um aviso, dizendo que condena os terroristas e o Hamas, garantindo ao Instagram que não é anti-semita, mas sim anti-genocidas (o que quer que isso seja). Doze meses após 7 de Outubro de 2023, ainda precisamos rejeitar ao Satánas como salvo-conduto para criticar o governo de Netanyahu.

É ridículo tentar equilibrar a oposição às atrocidades de um regime sem querer ofender a sensibilidade desse mesmo regime. Dizer que se condena os terroristas do Hamas, do Hezbollah e que somos pela Paz e amor fraterno entre os povos tornou-se teatral - podemos dizer o que é necessário e justo, na condição que nos posicionemos naquela zona cinzenta do “uuiii é muita complicado”

Markl pariu uma posição híbrida, uma homenagem à neutralidade portuguesa, reconhecida em conflitos passados e agora misturada com orgulho nacional.

Mas facto é que depois de um ano de barbárie em directo, a maré está a mudar, as vozes que se mantiveram silenciosas com medo da própria sombra estão a fazer contas à vida e, espero, à sua consciência.

Foto do artigo “I saw a woman and her children in the fire and couldn’t help” do Middle East Eye em 14/10/2024.

Há uns dias foi o Trevor Noah.

O comediante, actor, autor, colunista, analista político, a viver em Los Angeles, baseia o seu trabalho na sua experiência pessoal do Apartheid em África do Sul, terra Natal de Noah. Apesar dos esforços sul-africanos para proteger a Palestina da opressão israelita no Tribunal de Haia desde dezembro de 2023, Trevor permaneceu em silêncio. Um silêncio que durou meses e foi quebrado numa entrevista a Ta-Nehisi Coates. No seu novo livro "The Message", Coates argumenta que a situação da ocupação israelita na Palestina não é tão complicada quanto a América parece sugerir, já que, como afro-americano é simples identificar um sistema de opressão, segregação e supremacia racial.

Coates questiona, diante das injustiças que viu na Palestina, se também ele se juntaria a um grupo de resistência como o Hamas, caso fosse palestiniano. Trevor Noah apoia a visão geral de Coates e aproveitando todo o criticismo em torno à publicação de um escritor prestigiado como Coates, Trevor, num golpe comunicativo, mostra ao seu público que sempre esteve do lado dos oprimidos; o seu silêncio era apenas um sintoma da sua profunda reflexão. Moralmente dúbio, mas com uma mensagem eficaz. Trevor entrou tarde e a más horas, mas está outra vez no ringue.     

Markl,  no seu pequeno universo ibérico, segue o mesmo caminho, mas não vai além da superfície, provavelmente por desconhecimento da matéria. Fala tarde, pouco, acenando num mísero parágrafo, aqui e ali, à injustiça da situação mas travando espessura e credibilidade com um "disclaimer”. Enfim, disse o irrelevante para evitar estar calado. 

Não é preciso repetir que criticar o governo de Israel não significa ser anti-semita. E quem ainda pensar assim, vá cagar!

Um dos seguidores no post de Markl comenta porque é que “só agora a malta está a tirar estas conclusões (…) isto é um conflito com mais de 70 anos.” Markl acusa o golpe e com um contra-ataque passivo/agressivo mete o seguidor no seu lugar: “louvo a clarividência de décadas, mas parece-me inútil; parece um pouco aquela malta que quando saiu o Out of Time dos REM e o Losing My Religion tocava nas rádios e era amado por toda a gente, dizia mas olhem que eu já sou fã desde o Murmur!” para logo depois oferecer um raminho de oliveira apelando à compreensão alheia “agora a sério (…) acho que nunca é tarde para protestar.” Amor, paz e gatinhos fofinhos…oooohhhh!

Numa coisa Markl está certo: nunca é tarde para protestar. Mas com quase 900k seguidores ser silencioso é defender o indefensável. E o Markl, como tantas outras celebridades, demorou 12 longos meses para sair da apatia moral e dar-nos NADA.

A coragem de tomar uma posição tem sido invisível, como as pessoas que a defendem. Pessoas com vidas normais e sem nada a perder. Aparentemente. 

Há amizades que ficaram pelo caminho, trabalho que se perdeu e, o pior de tudo, acusações de traição com insultos pelo meio - a malta invisível, sem nada a perder, tem visto de tudo.   

Mais adiante Markl diz ter ficado de coração partido quando Israel insultou e relegou António Guterres a “persona non grata”. O mesmo Secretário-Geral da ONU que Netanyahu não atende o telefone faz meses; o mesmo que lamenta a morte de 220 membros desde 7 de Outubro; o mesmo que assistiu à destruição da capacidade da ONU no território, culminando no ataque direto do IDF aos capacetes azuis no Líbano; o mesmo que já reuniu os diplomatas da ONU 47 vezes sem conseguir um cessar-fogo. Este banimento só surpreende quem não está atento. 

Todos pagamos um preço alto por falar e Guterres não é excepção. Perante as evidências as criticas são para ser feitas sem receio porque, depois de 45mil mortos,  o coração está irremediavelmente destroçado!

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Naples is something, you are not!

Naples is a tough city to live. Probably the toughest I’ve ever lived. And no, it is not for safety issues or gang violence wise - I’ve never witnessed anything related to any of those issues on my eleven years here. Naples is tough because it’s a city that forces you to just let it go!

Sometimes I wish things were simpler, or maybe just smoother. Whenever I met a newcomer, I remind myself of how challenging it was when I got here. That sense of being in the middle of the chaos, the underdevelopment sensation of a common depressing existence and the constant urge to run away. But the fact remains: Naples will never adapt to any expectations, being it negative or positive.

Naples gives zero fucks on what we think about it, on whether or not we agree with its cultural and traditional schemes. Naples has the ability to show our shallowness on thinking a city, or a people for that matter, would change its ways just to adapt to our vision of the so-called civilised world.

If you get mad because of the Neapolitan chaotic traffic or its general inefficiency, maybe it’s time you face the fact that your energy should be spent where it’s needed: on improving yourself. What are you doing today to improve life around you?

Naples is raw so maybe try to be warmer to yourself and others. And this is more or less the lesson one has to learn in this city.

Because its toughness is also the source of its brilliance and authenticity. Naples is the stuff of artists and poets: it won’t force you to stay but it will cast you a spell before you leave!

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Só me faltava o “skincare”

Num contexto de pele mais que perfeita, 15 anos e acabada de entrar no Liceu, comprei pela primeira vez um produto de cuidado da pele: um creme hidratante da Shiseido para peles jovens. Pela primeira vez eu e as minhas amigas pavoneavamo-nos pelos corredores do Liceu untas de um acessório efectivamente dispensável. Não parece grande coisa mas foi marcante tendo em conta uma existência infantil em que eu e os meus pares cheirávamos todos, sem excepção, ao champô Johnson & Johnson. 

É 2024 e antes da partida de um voo do aeroporto de Gatwick, a minha filha de 10 anos alerta “Mamã, está ali a Sol De Janeiro…posso ir ver se a manteiga corporal é disponível?” Hã!? É o quê??

É óbvio que produtos de cuidado da pele também os uso mas sou muito comedida. Não me maquilho diariamente e estou longe de ser obcecada e besuntada, mas sobretudo, evito gastar dinheiro inutilmente.

Sem perceber como, nem quando, eis-me com uma filha e respectivas amigas e amigos a saber mais dos produtos que eu tenho na casa-de-banho que a assistente de perfumaria que mos vende. Criançada a desfilar beauty cases com 5kgs de perfumes de 80 euros, cremes para os olhos, paletas de sombras, desmaquilhantes supersónicos para todo o betume possível, tónicos “para refrescar a pele”, glosses, correctores e eu aqui no centro da tempestade, sem qualquer habilitação para lidar com este novo Mundo.

A criançada ajusta a sua realidade ao plano “essencial” e diário de 12 passos de skincare de uma tiktoker de 9 anos de idade. Entre eles sugerem planos de skincare e discutem - apenas - os benefícios dos cremes vários, sobretudo no retardar o aparecimento de rugas (!). 

Eu assisto a todo este frenesim enquanto grito internamente: “E OS DENTES?? LAVAM-SE?!?”

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I went to a Taylor Swift concert and oh boy are my feelings mixed

End of May, I was picking up the girls from school. Irene, my 10 year old daughter, came out with a frown. I could feel the heat as I got closer. Did you know that Your friends daughters are going to the Taylor Swift concert? You told me tickets were sold out!

I lied.

Truth is: I spent my young years going to ticketing lines. I spent more time waiting  to buy tickets than on the actual shows. Was it worth? Of course it was, it was the 90’s and I saw Madonna, Michael Jackson, Prince (bought the tickets twice because I lost the first one), Pearl Jam, U2 just to name a few. It was fun but I just don’t have the energy anymore. And ignoring Taylor Swift concert? Pff easy done!

On the phone with my friends I couldn’t hide the disappointment of being caught by surprise by my own daughter and a concert in Warsaw from all the places in the world!? Standing on the other side of the room Irene pleaded, Mom, I really want to get a ticket, with her piggy bank on her hands, I could also get the money I got for my Birthday on my bank account. Fword Fword Fword.

I spent the next 48 hours going after tickets resellers, booking plane tickets and hotel while managing a Swiftie-in-the-making growing excitement. And once everything was settled my main job now was to prepare a very young girl for what she was getting herself into.

65,000 attended the sold out The Eras Tour concert at Warsaw PGE Narodowy Stadium for three nights in a row

Outside the PGE Narodowy stadium, the royal court is getting in motion for their Queen. Dressed in sequins, high pink hats and everything feathery, these were the readiest fans I’ve seen in my life. Taylor has the most insatiable and efficient fans community. An idolised cultural icon, from her looks to the numerological theories on her lyrics - It’s a Taylor thing, you wouldn’t understand, it’s written on a shirt. I do not understand and I must confess that this level of fascination makes me very uncomfortable.

But then I remind myself that this is GenZ: reality is far from being binary. They’re organised, unapologetic, goofy and depressed on sequins while they souls burn on a purified rage for every single struggle in the world. Taylor is a Millennial that brilliantly has targeted all of GenZ narratives and branded them.

These youngsters will defend Taylor from cancel culture but they’re the same demanding a stance on her political views. When you are young they assume you know nothing, some are disappointment by Taylor’s silence on the wars or climate change but they will sing along with her their own growing pains.     

This show is everything at the same time and it’s taking a very long 3 hours and a half to be unforgettable. Taylor Swift, the once industry underdog is diving on a 100 million dollar super stage and swimming to the highest reaches of the Pop music Olympus.    

According to financial news outlets, the Eras Tour has made Taylor Swift the first artist to achieve billionaire status solely on the basis of her music, with and estimated $1.1 billion fortune. Powerful as her show, impressive as her stamina, talented as her skills and focused as her choice of climax to celebrate 20 years of career. No surprise she’s The Man.

The world is a strange place but Pop is a safe pitch, so I don’t know about you but I’m feeling 22 and with my mixed feelings aside I went along with the inevitable vibe only Madonna “Holiday” or Michael Jackson “Thriller” hit the best. That Pop ethereal sparkle.


I stopped for a moment to breathe in and stared at Irene enjoying herself with her bff by her side. She was singing, dancing and laughing. My happy girl.

On our way back home she said Thank you, Mom, I had a great time. I snuggled her.

Months and weeks before this day I told her on repeat, Irene don’t forget that Taylor Swift is an artist working for an industry. Her job is to creatively fulfil your emotional needs. So do take her songs, interpret them your way however you feel fit as you grow up and as Taylor markets it be your strong self, determined. Obsessing for something, or worst for someone, is falling into a trap of an easy rewarding loop. Pop is the rainbow on a grey raining day. Take it all in. And never forget: concerts are one of the best things when you’re young!

And when you’re a Parent.

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AI, a consequência das nossas escolhas AKA chorar pelo leite derramado

Criatividade humana Vs universo IA

Nos próximos dois, três anos a utilização da Inteligência Artificial nas nossas vidas irá aumentar drasticamente. Não sou da opinião que iremos ficar à mercê dos robots, mas aproximam-se mudanças radicais consequentes também das nossas parcas escolhas.

Do hiper complexo advento da IA e dos data center que permitem o exercício das suas funções computacionais dou apenas um exemplo: a energia necessária para a refrigeração dos referidos centros. Uma coisa os humanos teem em comum com os computadores, nenhum dos dois funciona a altas temperaturas. Paradoxalmente um dos desafios da IA será diminuir o impacto do aquecimento global no Planeta, consumindo para isso pelo menos seis vez mais energia que os computadores de operações comuns que não utilizam inteligência artificial.

Mas a IA é o irrevogável bem de consumo pelo qual sempre ambicionamos. Estamos sedentos que as máquinas encontrem soluções para problemas que nunca tentámos, nem quisemos resolver.

Conseguimos criar um instrumento que irá tornar obsoleta e, por conseguinte, supérflua a nossa criatividade. Mas a escolha do pensamento acrítico vem de longe, foi nossa e foi feita no máximo exercício das nossas capacidades.

A IA acelerou um inevitável mas auto imposto declínio da criatividade humana

Há, pelo menos, duas décadas que a intervenção jornalística tornou-se uma anedota de mau gosto. Os apresentadores de telejornais são escolhidos basicamente pelos seus visuais e não pelas suas capacidades profissionais, salvo raríssimas excepções. A informação é mal escrita, não somente no seu conteúdo informativo, mas sobretudo na soberba gramatical. Repetem-se lugares-comuns nas entrevistas com um rol de perguntas flácidas e estéreis. A informação abriu mão do poder inerente para se vergar aos poderes adquiridos.

A escrita de argumentos cinematográficos já é melhorada e revista com a IA, descartando os dias, as semanas em que argumentistas, realizadores e produtores moldavam estórias ao sabor das suas realidades. O “writers’ room” tá vazio e segue-se o camarim dos artistas.

Os designers estão a pagar pelos seus pecados há já um tempo e os tradutores, esses párias, são uma espécie em extinção.

Facto é que o trabalho criativo deixou de ser trabalho há muito tempo. As funções profissionais dissolveram-se num folclore de mau gosto em que o jornalista tem de ser modelo, influencer e bully; o escritor tem de ser stand-up comedian e podcaster; o designer criativo tem de ser arquitecto de interiores, técnico informático e especialista nos módulos do IRS.

A perícia deu lugar a antros de propaganda política, opiniões bacocas de almas vendidas por meia dúzia de tostões, com a presunção do Rei que se pavoneia pelas ruas, nu.

Aceitámos baixar as nossas compensações monetárias, porque o mercado nos estava a dar uma “grande oportunidade de carreira”, aceitámos ser porta-microfones no meio de arenas de leões sem impôr condições, permitimos que media e entretenimento formassem uma única realidade sem respeito por quem no passado lutou pelos seus códigos de ética. Estamos prontos para o Museu de História Natural, secção civilizações antigas.

Alambazámo-nos de arrogância e agora vemos o fecho de jornais, canais de televisão e rádios. Arte substituída por fillers e botox. A realidade em directo dos social media e a sua força popular, até populista, foi o penúltimo prego no caixão. A IA é o último.

Somos dispensáveis porque decidimos não pensar pelas nossas cabeças e, sobretudo, ignorámos ajudar a educar a voz crítica de quem nos poderia salvar: o público.

Apesar do panorama parecer profundamente catastrófico eu sei que há gente de grande valor a remar na direcção de novas marés. A IA irá promover grandes mudanças mas também grandes oportunidades, sendo a mais importante de todas o estreitar do vínculo das relações interpessoais. Pensemos mais rápido e melhor com a ajuda da IA mas não deixemos de pensar, porque a realidade continua a necessitar que os humanos continuem a colocar questões pertinentes e a conferir respostas valiosas.

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