Só me faltava o “skincare”

Num contexto de pele mais que perfeita, 15 anos e acabada de entrar no Liceu, comprei pela primeira vez um produto de cuidado da pele: um creme hidratante da Shiseido para peles jovens. Pela primeira vez eu e as minhas amigas pavoneavamo-nos pelos corredores do Liceu untas de um acessório efectivamente dispensável. Não parece grande coisa mas foi marcante tendo em conta uma existência infantil em que eu e os meus pares cheirávamos todos, sem excepção, ao champô Johnson & Johnson. 

É 2024 e antes da partida de um voo do aeroporto de Gatwick, a minha filha de 10 anos alerta “Mamã, está ali a Sol De Janeiro…posso ir ver se a manteiga corporal é disponível?” Hã!? É o quê??

É óbvio que produtos de cuidado da pele também os uso mas sou muito comedida. Não me maquilho diariamente e estou longe de ser obcecada e besuntada, mas sobretudo, evito gastar dinheiro inutilmente.

Sem perceber como, nem quando, eis-me com uma filha e respectivas amigas e amigos a saber mais dos produtos que eu tenho na casa-de-banho que a assistente de perfumaria que mos vende. Criançada a desfilar beauty cases com 5kgs de perfumes de 80 euros, cremes para os olhos, paletas de sombras, desmaquilhantes supersónicos para todo o betume possível, tónicos “para refrescar a pele”, glosses, correctores e eu aqui no centro da tempestade, sem qualquer habilitação para lidar com este novo Mundo.

A criançada ajusta a sua realidade ao plano “essencial” e diário de 12 passos de skincare de uma tiktoker de 9 anos de idade. Entre eles sugerem planos de skincare e discutem - apenas - os benefícios dos cremes vários, sobretudo no retardar o aparecimento de rugas (!). 

Eu assisto a todo este frenesim enquanto grito internamente: “E OS DENTES?? LAVAM-SE?!?”

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